Aflatoxinas: um perigo para as vacas leiteiras
Aflatoxinas: um perigo para as vacas leiteiras
As micotoxinas são metabolitos secundários produzidos por alguns fungos filamentosos, pertencentes maioritariamente aos géneros Fusarium, Aspergillus e Penicillium, que se desenvolvem normalmente em matrizes vegetais utilizadas como matérias-primas para a alimentação animal.
Contaminação
A exposição do consumidor às micotoxinas decorre da ingestão de géneros alimentícios de origem vegetal diretamente contaminados ou de géneros alimentícios de origem animal que veiculam micotoxinas pela utilização de alimentos para animais contaminados.
A utilização de matérias-primas contaminadas com micotoxinas, na alimentação animal, pode ter repercussões económicas elevadas, condicionar o rendimento da produção animal e afetar a saúde e bem-estar dos animais além de comprometer a segurança dos alimentos. Há evidências claras que as vacas em lactação exibem uma redução significativa na eficiência alimentar e de produção de leite logo nos primeiros dias após consumirem alimentos contaminados com micotoxinas.
Entre as micotoxinas mais críticas para a produção e qualidade do leite, encontram-se as aflatoxinas (AFs). As principais aflatoxinas são quatro – B1, B2, G1 e G2 sendo que a mais abundante e mais tóxica é a B1 (AFB1), que é considerada o composto natural com maior carcinogenicidade conhecida, classificada pela Agência Internacional de Investigação sobre o cancro – IARC, no grupo 1 de carcinogénicos (carcinogénico para humanos).
Efeitos na saúde animal
Os efeitos das aflatoxinas na saúde animal podem ser muito diversos, pois variam consoante a concentração e o período de tempo em que são consumidas.
No entanto, um dos fatores causadores de mais problemas nos animais, é a presença de várias micotoxinas na alimentação que em conjunto com as aflatoxinas, mesmo em concentrações pequenas, potenciam graves alterações na saúde das vacas.
As aflatoxinas são compostos produzidos por fungos de Aspergillus flavus, Aspergillus parasiticus e Penicillium puberulum. A produção de aflatoxinas aumenta durante a fase estacionária de crescimento dos fungos, ou seja, quando a multiplicação estabiliza. Estes fungos crescem em elevadas quantidades, quando as condições ambientais são favoráveis, como por exemplo, quando ocorre stress hídrico das plantas no campo, ou quando a ração ou forragem é armazenada em condições de humidade excessiva ou por um longo período de tempo. Eles colonizam vários tipos de colheitas como os: cereais, oleaginosas, frutos secos e especiarias.
Apesar de ser bem conhecido que um clima húmido e quente promove a difusão de bolores produtores de aflatoxinas, a contaminação é comum devido à combinação de condições meteorológicas, fatores ambientais e práticas agrícolas inapropriadas, o armazenamento e maneio de alimentação incorretos.
Cadeia alimentar
Quando os ruminantes ingerem alimentos contaminados com Aflatoxinas B1 (AFB1), esta sofre uma metabolização principalmente no fígado, originando outros metabolitos, nomeadamente Aflatoxina M1 (AFM1), que é excretada no leite. A Aflatoxina AFM1 permanece estável no leite mesmo quando processada pelo calor ou por fermentação.
Outros metabolitos são formados e excretados no leite, juntamente com a AFM1, que incluem a Aflatoxina M2 e M4. Ambas aparecem no leite mas em concentrações muito inferiores que a AFM1, sendo assim consideradas menos importantes em termos de segurança pública.
Estudos indicam que as Aflatoxinas consumidas na ração contaminada aparecem relativamente rápido (horas após o consumo) no leite como AFM1, chega ao máximo dentro de três dias e o nível baixa drasticamente quando a fonte de contaminação é eliminada da ração.
É possível recorrer a aditivos anti-micotoxinas que incorporados na dieta dos bovinos diminuem os efeitos adversos através da adsorção e/ou biotransformação das micotoxinas.
Sendo impossível fazer a eliminação total da presença das micotoxinas, torna-se essencial garantir a implementação de estratégias que reduzam a sua concentração em produtos que se destinam à alimentação humana e animal.
Medidas preventivas
A melhor forma de prevenção contra a contaminação por Aflatoxinas M1 consiste em não administrar aos animais alimentos contaminados por aflatoxina B1. Garantir que a ração animal é armazenada durante não muito tempo e em condições relativamente frescas e secas.
Para proteger os consumidores, a maioria dos países têm legislação para limitar as concentrações de AFB1 na ração e nos ingredientes da ração animal e de AFM1 no leite. Encontra-se fixado no Regulamento (UE) 2023/915 da Comissão, de 25 de Abril de 2023, relativo aos teores máximos de certos contaminantes presentes nos géneros alimentícios, o limite máximo para aflatoxina M1 de 0,050µg/kg ou 50ppt em leite cru, leite tratado termicamente e leite para o fabrico de produtos à base de leite.
Análise da aflatoxina M1
A análise da aflatoxina M1 é feita no leite de vacas em que exista uma suspeita ou pode-se monitorizar o rebanho com análises ao leite no tanque de refrigeração, ao longo do ano. O laboratório SEGALAB encontra-se habilitado para fazer análises para a aflatoxina M1 no leite, fornecendo o apoio analítico necessário para responder aos problemas da produção de leite.
Andreia Alves, Diretora Técnica do SEGALAB, e João Sousa, Médico Veterinário do SEGALAB