Agentes prevalentes na diarreia de vitelos
Agentes prevalentes na diarreia de vitelos
A diarreia neonatal em vitelos é a principal causa de mortalidade e morbilidade em animais com menos de um mês. Para além das perdas diretas com valor do animal, acrescem as perdas com custos de tratamento e médico veterinário, tempo extra despendido, os atrasos no crescimento, a suscetibilidade a outras doenças, principalmente do foro respiratório, e o atraso no melhoramento genético da exploração.
A origem da doença
A etiologia desta doença é multifatorial e resulta essencialmente da interação entre o vitelo e vaca, o ambiente e os agentes patogénicos envolvidos:
a) Fatores ambientais
- Tamanho maior do rebanho, densidade animal;
- Maneio do colostro e encolostramento;
- Grupos etários mistos;
- Tipo de alojamento, cama, material das camas;
- Higiene ambiental;
- Condições meteorológicas.
b) Fatores da vaca e vitelo
- Condição corporal da vaca, local e higiene do parto;
- Estado imunitário do vitelo;
- Idade do vitelo.
c) Agentes patogénicos
- Vírus (Rotavírus, Coronavírus);
- Bactérias (E.coli, Clostridium spp, Salmonella spp);
- Protozoários (Cryptosporidium spp., Giardia sp. e Coccídeas).
Com base na idade dos vitelos, sinais clínicos dos animais e aspeto das fezes podemos fazer um diagnóstico provável do ou dos agentes envolvidos; mas só com recurso a testes de diagnóstico é que teremos a certeza (TABELA 1).
A transmissão de agentes patogénicos entre a vaca e o vitelo poderá ocorrer através do colostro ou leite contaminado, camas contaminadas, pela presença de outros animais no mesmo espaço, fómites ou até pelas pessoas. A maioria das explorações implementou diversas medidas de profilaxia, gestão e maneio para reduzir ou eliminar a maior parte dos agentes infeciosos.
Principais agentes patogénicos
Diversos estudos mostram que a presença de um único agente patogénico não é comum nos animais com diarreia; na maior parte dos casos as infeções mistas são mais frequentes ocasionando surtos mais graves. O GRÁFICO 1 evidencia a distribuição dos principais agentes de diarreias neonatais em 648 amostras de vitelos que chegaram à Segalab no período 2020-2022, com pelo menos uma identificação positiva. O Cryptosporidium foi o agente com mais identificações positivas, 45.4%, seguindo-se os Rotavírus com 18.1% e Coronavírus com 11.1%. No campo, este protozoário é e continua a ser um desafio para produtores e médicos veterinários. Estes resultados estão em consonância com outros provenientes de diversos países europeus.
Infelizmente, nos casos de diarreia em vitelos é mais comum encontrar infeções mistas o que torna a profilaxia mais difícil assim como o tratamento. Em quase 60% das amostras positivas existiam 2 ou mais agentes. O Cryptosporidium sozinho foi identificado em 29% das amostras e com outros agentes (vírus ou bactérias) em 16,4% dos casos. A Giardia é o agente menos identificado.
No GRÁFICO 2 podemos observar a dinâmica dos casos positivos, mensalmente, durante os anos 2020, 2021 e 2022. As amostras positivas a E.coli surgem com maior frequência nos meses de abril e/ou maio e no período novembro a janeiro/fevereiro; o Cryptosporidium aparece em quase todos os meses e os casos positivos de Giardia estão localizados a determinados meses.
A presença de coccídeas é igualmente frequente, principalmente do género Eimeria spp, apesar de ser uma pesquisa pedida com menos frequência. Num total de 468 amostras, foram identificadas estas coccídeas em 221 amostras (47,2%), com uma distribuição muito similar em cada ano (GRÁFICO 3).
Em mais de 50 % dos casos positivos a infestação era baixa (entre 50 a 1000 oocistos), mas em 13.6% das amostras positivas a infestação era superior a 10 000 oocistos (TABELA 4).
O diagnóstico etiológico dos agentes de diarreia neonatal é fundamental para implementar as respetivas medidas de maneio, higiénicas, profiláticas, onde se destaca a vacinação, entre outras; mas o diagnóstico também serve para confirmar se as medidas já implementadas estão a surtir efeito ou se é necessário alterar algum procedimento na exploração.
Adelaide Pereira, Médica Veterinária no SEGALAB