Febre Q
Febre Q
A Febre Q (diminutivo de Query Fever) é provocada pela infeção da bactéria Coxiella Burnetii, podendo atingir uma grande variedade de seres vivos da fauna selvagem (desde aves, mamíferos, repteis a artrópodes como as carraças) inclusive animais domésticos. A presença da bactéria nos bovinos, ovinos e caprinos, pode causar grandes perdas económicas.
Febre Q em humanos
Muita da importância da Febre Q provém da possibilidade de infeção nos seres humanos, por isso, é uma zoonose. Existem casos reportados a nível mundial e os principais sintomas são febre, pneumonia e hepatite.
Os seres humanos infetam-se por via respiratória e por contato com animais infetados. É uma bactéria que adota diversas formas que lhe permitem sobreviver por muito tempo no meio ambiente.
As infeções em seres humanos são de declaração obrigatória ao SNS segundo o Despacho n.º 1150/2021, de 28 de janeiro.
Contudo existem subnotificações, pois a maioria dos casos são assintomáticos.
Quando suspeitar de Febre Q
Os principais sinais de Febre Q são:
- Aborto, pode acontecer em qualquer fase da gestação, desde a mortalidade embrionária à última fase da gestação. Segundo um estudo francês a Coxiella Burnetii é a segunda causa de aborto diagnosticado (10.2%), depois da Neospora caninum (17.8%);
- Infertilidade, aumento de inseminações por vaca gestante e aumento do intervalo de dias entre partos;
- Partos prematuros e nascimento de vitelos fracos;
- Retenção de secundinas;
- Endometrites.
A maioria das infeções é assintomática, mas ao nível do rebanho verificam-se perdas significativas. Em Portugal estudos de seroprevalência indicam que:
- 51,6% das explorações de pequenos ruminantes apresentam casos positivos.
- 37,8% das explorações leiteiras de bovinos já tiveram contato com a Febre Q.
- 23,5% das explorações de bovinos de carne já tiveram em exposição à doença.
Como analisar a Febre Q
Em explorações leiteiras a análise do leite de tanque, é um método prático para perceber se já houve contato com a doença do rebanho, através do teste ELISA. Para saber se existem animais infetados a excretar ativamente Coxiella Burnetii no leite utiliza-se a técnica do PCR, principalmente em bovinos e caprinos. Estas duas análises têm limitações e significados diferentes, por exemplo, num rebanho de ovelhas, devido à baixa excreção no leite, o PCR tem um valor informativo limitado, porque um resultado negativo não significa que não exista Coxiella Burnetii.
Em explorações que vacinam contra a Febre Q o teste ELISA não é a melhor ferramenta de diagnóstico, pois irá detetar anticorpos vacinais, obtendo sempre um resultado positivo.
Durante os surtos de abortos verifica-se um aumento da excreção de Coxiella Burnetii, particularmente, no material abortivo e no corrimento vaginal, mas não no leite, motivo pelo qual, a análise de eleição é o PCR, feito ao corrimento vaginal , à placenta e ao material abortivo, nomeadamente ao conteúdo estomacal, fígado e baço. No sangue podem ser feitos testes ELISA, sendo uma matriz que sofre menos variações e normalmente, detetam-se maiores quantidades de anticorpos que no leite.
A excreção em fezes de Coxiella Burnetii, também ocorre e pode ser detetada por PCR. Por isso na hora de decidir que análise efetuar aconselhe-se com o seu Médico Veterinário ou com um Laboratório.
Como agir se tiver Febre Q na minha exploração
Perante casos positivos de Febre Q as práticas de maneio aconselhadas são:
- Limpeza e desinfeção da sala de partos, após a utilização.
- Recolha e destruição de placentas e abortos.
- Armazenamento de chorumes afastado das casas, estábulos e caminhos muito frequentados.
- Efetuar gestão adequada dos resíduos e dejetos animais, recorrendo à compostagem ou permitindo a sua fermentação por um período adequado, antes de ser utilizado.
- Espalhar o chorume em tempo calmo e com pouco vento de forma a evitar disseminação aérea da Coxiella Burnetii.
- Controlo de pragas, nomeadamente de carraças e roedores que podem desempenhar um papel ainda que secundário, importante na disseminação da doença.
- Limpeza e desinfeção de material obstétrico e de contenção utilizado nos partos, assim como, de máquinas agrícolas e outros equipamentos partilhados.
Apesar das formas esporuladas de Coxiella Burnetii serem extremamente resistentes, trata-se de diminuir ao máximo o risco da sua disseminação.
Controlar a Febre Q com fármacos
A vacinação é a principal arma disponível para controlar a Febre Q em rebanhos infetados porque:
- Diminui os casos clínicos de aborto e melhora os índices de fertilidade;
- Previne a excreção de Coxiella Burnetii inclusive durante o parto e assim impede transmissão para outros animais;
- Previne a transmissão para os seres humanos.
Todos os animais a partir dos 3 meses de idade podem ser vacinados, por forma a garantir que 3 semanas antes da inseminação artificial ou cobrição, as novilhas já estejam imunizadas e protegidas com uma segunda dose ou rappel. Estudos mostram que 4 a 5 anos de vacinação, podem conseguir a erradicação da Febre Q de um rebanho, sendo que pode confirmar-se isto sempre com uma análise de PCR ao tanque de leite. Estudos indicam que só animais com sinais clínicos de febre Q (aborto, metrite) podem beneficiar com antibioterapia de longa ação.
Conclusão
A Febre Q, por ser frequentemente assintomática, acaba por provocar prejuízos significativos na pecuária de ruminantes ao infetar rebanhos de forma relevante. O seu controlo exige um trabalho de equipa para diagnosticar, controlar e impedir a sua disseminação para outras explorações e para o ser humano.
SEGALAB